Abuso Sexual Infantil Intrafamiliar: uma banalização judicial alarmante

Abuso Sexual Infantil Intrafamiliar: uma banalização judicial alarmante
Publicado em: 06/08/2025

Vamos falar de Incesto

Enquanto psicóloga clínica que acompanho vítimas de violência domestica e abuso sexual infantil, assisto diariamente a um fenómeno perturbador: a normalização judicial do incesto. É com profunda indignação profissional e humana que volto a levantar a voz.

O tratamento que os tribunais — não todos, mas demasiados — têm dado aos casos de abuso sexual infantil intrafamiliar é de uma frieza que beira a cumplicidade. A forma como certos juízes e procuradores tratam estes processos revela uma apatia institucional que chega a ser criminógena, protegendo agressores e punindo protetores.

Senhores Magistrados, não é aceitável que, em pleno século XXI, ainda se confunda ausência de marcas físicas com ausência de abuso. O abuso sexual infantil raramente deixa sinais visíveis — mas deixa feridas emocionais, neurológicas e relacionais profundas e irreparáveis.

Do ponto de vista clínico e científico, os efeitos do abuso sexual na infância incluem:

  • Perturbação de stress pós-traumático complexo
  • Depressão severa
  • Dissociação
  • Auto-mutilação
  • Suicidio
  • Repetição de vínculos abusivos
  • Comprometimento do desenvolvimento do autoconceito, da sexualidade e da capacidade de confiar

E tudo isto ocorre silenciosamente, mesmo quando não há um único hematoma.

Exemplos reais que chegam até mim, enquanto técnica:

  • Um pai “limpa” o ânus da filha com um cotonete e pede que ela o faça nele. A menina tem 3 anos. Não há marcas. Ela não tem voz em tribunal.
  • Um brinquedo é usado para esfregar a vulva de uma criança de 4 anos.
  • Um menino de 3 anos vê pornografia com o pai antes de dormir, sendo depois estimulado até à masturbação.
  • Beijos na vulva e obrigar uma menina de 5 anos a lamber o pénis.

Não há marcas. Mas há trauma. E há crime.

Mas todos alegam ser inocentes até se provar o contrário (não há marcas e as perícias psicologicas são medíocres) In dúbio pro réu – nunca para a criança. Medidas de prevenção – raras. Resultado: as crianças continuam a ser abusadas, em processos crime longos 3, 4, 5 nos …e que muitos deles a investigação não deu inicio.

Se isto não é abuso sexual infantil, o que será?

Se isto não é negligencia por parte dos tribunais o que será?

Vamos ao caso da Elza — Um exemplo de inversão total da lógica judicial

A mãe, Elza, denunciou sinais consistentes de abuso sexual por parte do progenitor ao filho. O Tribunal da Relação do Porto, porém, indeferiu o seu pedido, argumentando que é necessário averiguar se a mãe está a obstruir o convívio com o pai — como se proteger fosse um ato criminoso.

O mais grave? A decisão foi tomada sem qualquer análise das provas periciais ou documentais constantes nos autos. Neste momento, Elza está a ser punida com coimas de 500 euros por cada incumprimento, por se recusar a entregar o filho a um alegado abusador. Está a ser castigada por exercer a sua função protetora, aquela que o Estado deveria apoiar.

Mas por que razão o tribunal não investiga com seriedade?

Porquê esta resistência sistémica em aplicar o princípio da precaução? Na dúvida, dever-se-ia proteger a criança e afastar o suposto agressor até apuramento cabal dos factos. Não é apenas legal. É humano. É ético. É científico.

Qual é a mãe que entrega um filho para um agressor-abusador? E por favor, já estamos fartos da ouvir como defesa “a mãe está alienar” sejam mais criativos, por favor!

Para mais informações sobre abuso sexual infantil e o conceito perturbador da alienação parental, fica o artigo da Meritíssima Juíza do Tribunal Supremo Dra. Maria Clara Sottomayor https://clarasottomayor.com/public/files/revista_julgar_13-2011-alienacao_parental.pdf

Sobre o CASO ELZA:

PodCast : https://lnkd.in/dF5_AAHz

Apelo da mãe Elza: https://lnkd.in/d-GD-8BA

Artigo: https://www.linkedin.com/posts/danielacosme_a-prote%C3%A7%C3%A3o-da-crian%C3%A7a-em-caso-de-abuso-sexual-activity-7314305338491461632-MUdo?utm_source=share&utm_medium=member_desktop&rcm=ACoAAAHv778Bx958ylheTy9jC79i8sOlWTqua4s

LiVE: abuso sexual infantil: https://lnkd.in/dWYVVHjk